quarta-feira, julho 30, 2008

A Morte Joga Xadrez

- Xeque.
- Assim não dá, você me distrai com essas histórias.
- Se você se distrai por tão pouco, que posso fazer eu?
- Sem essa. Toma.
- Você comeu minha rainha?
- Ah é? Não me diga.
- Xeque!
- O quê??? Ta brincando.
- Brincadeira nada, é jogo sério.
- Sério é o que vai acontecer com você quando terminarmos.
- Isso é alguma ameaça?

- Você sabe, nem preciso responder. Se eu pudesse...
- Não sei se você se lembra, mas quem vai é você! Pronto, me passa o cavalo.
- O quê??? Ah, mais essa.
- Concentra aí cumpadi, assim que quer ir pro céu? E pode deixar que as ameaças ficam por minha conta.
- Você não me disse nada sobre isso.
- Sobre o quê? Olha, ameaças no bom sentido...
- Sobre ir para o céu.
- Ok. Ganhou céu, perdeu inferno.
- E se eu quiser ficar na Terra?
- Sem chance.
- Eu pago, compro minha vida. Quanto você quer?
- Seu tempo acabou camarada.
- Não, deve ter outro jeito.
- Xeque!
- Ahhhh, você se aproveita!! Ta me sacaneando. Quer me ver no inferno não é mesmo?
- Se você fosse um pouquinho mais esperto nem se preocuparia com isso.
- O que disse?
- Não importa, continue.
- Ok. Então me diga, como é o inferno?
- Você não vai querer saber.
- Oras, se te pergunto...
- Esqueça, de mim não arranca NADA.
- Ok. O que você quer então? Eu lhe pago.
- Olha, por mais que eu esteja precisando - afinal não paguei a conta do hotel nas duas últimas vezes que estive aqui - não posso aceitar.
- E porquê?
- Questão de honra.
- Ah, qualé. Desde quando Morte precisa de honra.
- Desde que você está vivo. Depois que eu te levar é outra história.
- E como pretende fazer isso?
- Esqueça.
- Mas você nem se qu...
- Percebeu que se preocupa muito com como? Quando é mais importante rapaz.
- Agora quer me ensinar a viver?
- Não pode.
- É claro que não posso, não posso mais é suportar essa idéia de...
- Não infeliz, não pode fazer essa jogada, seu Rei está ameaçado.
- Ah claro, como não estaria. Ok, você venceu. Quando?
- Agora.
- O quê?
- Xeque mate!

sexta-feira, julho 18, 2008

Quero querendo


Quero voar no alto sobre o precipício
Me afogar de amor, de paz, de gente boa
Beber o sossego dos dias quentes de inverno
Inventar histórias reais, me vestir de fantasia
Quero me pintar de noite e dia, sem ter hora e nem onde terminar
Transpirar de alegria, sorrir escandalosamente, gritar, pular...
Mentir pra mentira a verdade (in)conseqüente
Beijar o beijo verdadeiro, quente que arrepia
Quero me emocionar com a novela da esquina
Bater palmas pro artista na rua
Criticar a censura, a desigualdade e a "não crítica"
Tomar banho quente, ouvir a cidade, me deitar na grama
Quero tanta coisa que não me caberia
Inundar-me a vontade de dias assim, anseio
Por parte de tanto, pedaços de cada parte
Grãos pequeninos de feliz ilusão
Quero nada que não me queira
Ou que me queira sem eu querer
Quero o verbo, o verso, o dia
O amigo, o vinho, o calafrio
Quero todo dia, poder querer desse jeito
Jeito manhoso, quietinho e fogoso
Quero sabendo que hoje, ah...
Hoje é só hoje, e eu quero.

quarta-feira, julho 16, 2008

Alguma coisa acontece no meu...

Clarice disse que não, que é bobagem de menina boba, coisa de criança ainda criança, disse que gente grande pensa diferente, gente grande talvez até sinta diferente. Ah, não me importo com o que Clarice diga, é falta do que fazer meter o bedelho onde não é chamada, e eu nem tinha pedido sua opinião. Ela insiste, insiste em dizer o quanto tudo isso é papo furado "Menina, vai caçar o que fazer, ficar de namorico no portão é coisa feia viu? Vai estudar menina". Namorico no portão? É, Clarice não entende nada!
Clarice não é minha mãe, nem minha vizinha, tão pouco uma amiga. Ah, deixe-me falar com Clarice, vou esclarecer-lhe a situação, será que ela me entenderia?
E porque a preocupação se não lhe devo satisfações?
É, não sei não, só sei que as coisas vão bem, vão assim assim, talvez talvez... Vão bem. Bem como estão. Clarice que se esclareça, pra mim as coisas estão bem clareadas, o que quero, quando quero...
Não quero nada.