segunda-feira, setembro 29, 2008

Tudo a seu tempo.

Ela permanece nua. Intacta, imóvel, encolhida.
Nem as flores, tão pouco folhas, nada... Custam a brotar.
Parece a mais sem-vergonha, mas está tão tímida.
Em suas mãos, nas pontas de seus mudos dedos, brotam a incerteza e a impaciência.
Acalme-se, tudo a seu tempo, perceba a diferença, aprenda com ela e não julgue, portanto, os iguais, pois cada um, em sua proporção é diferentemente igual ao outro. Fazem parte do mesmo ciclo, vestem-se com a mesma lógica, comunicam-se pelo mesmo idioma, mas possuem diferentes princípios. As possibilidade são inúmeras, e o ciclo apenas um: nascer, crescer, morrer.


És a última entre as primeiras, mas o mais doce fruto, és filho teu.


Roda viva - Roda sim

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

Chico Buarque de Holanda

quarta-feira, setembro 03, 2008

Ma musique blue

Naquela rua mora uma menina
A menina dos grandes olhos
Morenos de diamente
Àquela rua ela vai todo dia
Brincar no asfalto
Descalça com origami
Eu pensei em dizer-lhe um verso
Uma poesia de alguma canção
Eu queria pegá-la no colo
Dar-lhe carinho e toda atenção
Naquela rua, naquele dia
Eu vi inundar um coração
Lágrima com corante cantante
de ma musique blue
de ma musique blue