sábado, março 24, 2007

Citando personagem

Sentada no banco da praça observava tudo o que por ali passava... Cachorros levando seus donos pra passear, um menino ensinando o pai a andar de bicicleta, a mulher de gravata atravessando a rua depois de um dia árduo de trabalho, dois gatos unidos pelo calor do sexo embaixo da árvore, o jardineiro arrancando as rosas e cavando buracos profundos no solo... E do nada, um passarinho morto, que caíra do ninho. De todos observados, foi o que encontrei mais sentido, se assim posso dizer. Acabou. Talvez para ele, talvez para mim. Então percebi... E eu? O que estava fazendo?
Diante de tanta futilidade, senti vontade de desaparecer, entrar num daqueles buracos que o jardineiro cavou. Não queria ficar mais ali, na contemplação estática dos outros, na comparação insignificante de mim mesma. Era apenas a menina do banco da praça. Sem ação. Sem certezas. Sem alguém.
Estava tão atordoada e perdida em meus pensamentos que só me dei conta que alguém dirigia-me a palavra quando fui lançada no vão da lembrança. Era o menino da bicicleta, devia estar nos seus quase 10 anos. Quase chorei quando ele me perguntou se eu tinha visto seu pai. Lembrou-me o filho que eu não tive. Respondi com toda a sinceridade da minha pobre alma, não sabia onde ele estava. O menino então, fixou seus grandes olhos negros em mim, como quem não acredita. Uma criança olhando-me daquela maneira doce e ao mesmo tempo incrédula... Não me contive, as lágrimas desceram retas pelo meu rosto, o que eu era? Agora uma mentirosa sentada no banco da praça. O menino me abraçou e eu caí quando ele me acariciando chamou-me de mãe.

quinta-feira, março 15, 2007

Hoje estou com uma vontade diferente...


Quero visitar exposições
Dançar até me cansar
Levar meus cachorros pra passear
Gritar com a minha irmã
Levar minha sobrinha ao parque
Olhar pro céu procurando passarinhos
Deitar na grama e tirar um cochilo
Beber cerveja, vinho, suco de maracujá
Me empanturrar de chocolate e salgadinho
Andar de bicicleta, patins e quem sabe cair pra gargalhar
Jogar bola com "meu mundo"
Tirar a roupa e nadar
Brincar de ser criança
Desejar minha infância
Visitar o Miguel (peixinho da Jan)
Falar besteira
Fazer cócegas
Girar sem parar
Me machucar pra dizer que passa
Sentar na Lua
Assistir Amelie
E imaginar o que há de diferente em tudo isso...

terça-feira, março 13, 2007

Valor

Aos minutos, às pessoas, aos queridos, aos imundos
Aos horários, às lembranças, aos meninos, à esperança
Aos cretinos, aos poetas, aos irmãos, aos fiéis
Aos círculos, às cores, aos dias, aos papéis
Ao inédito, ao velho, ao antes ou depois
Ao escândalo, o pavor, aos deuses, ao morador
Ao patético, ao sensato, à promessa, ao amor
Ao povo, o que aprove, ou que vinga com louvor
Às crianças, aos sorrisos, às desgraças, ao indeciso
Às ruas, ó ruínas, arruinadas pela vida
Às crises, inseticidas, aos remédios, aos meus vícios
Às formigas, às flores, aos medos, meus senhores
À eles muito, pouco, tanto quanto o outro em mim.

"MASCARAS" - de Mario Beneditti

"No me gustan las máscaras exóticas
ni siquiera me gustan las más caras
ni las máscaras sueltas ni las desprevenidas
ni las amordazadas ni las escandalosas

no me gustan ni nunca me gustaron
ni las del carnaval ni las de los tribunos
ni las de la verbena ni las del santoral
ni las de la apariencia ni las de la retórica

me gusta la indefensa gente que da la cara
y le ofrece al contiguo su mueca más sincera
y llora con su pobre cansancio imaginario
y mira con sus ojos de coraje o de miedo

me gustan las que sueñan sin careta
y no tienen pudor de sus tiernas arrugas
y si en la noche miran, miran con todo el cuerpo
y cuando besan, besan con sus labios de siempre..." (...)


P.S.: Marcolino, não resisti aos versos que conheci através do seu blog. Roubei-os, hehe

sexta-feira, março 09, 2007

...

"Comigo me desavim
Sou posto em todo perigo
Não posso viver comigo
Não posso fugir de mim"

Sá de Miranda

sexta-feira, março 02, 2007

Comunicado Importantíssimo

Caro leitor,

Os últimos quatro textos fazem parte de uma "série" sobre uma tal de Ana que estou procurando. Alguém a viu por aí? Para melhor entendimento, lê-se de trás para frente, isto é, de baixo para cima. Portanto comece pelo 1º - "Es muss sein" e termine (por enquanto) em "A fuga do Tempo".

Obrigada pela atenção e pela visita!

P.S.: A sua opinião é muito importante para nós. Doe-a.

quinta-feira, março 01, 2007

"A fuga do Tempo"

Ana procurava o relógio quando o tempo sumido assustou-a gritando - despertador! Desligou-o e viu: 23:35 hs. Precisava estar pronta, estar preparada. Arranjou-se na mala e tudo certo. Mas e a ansiedade?! Passava de lá para cá como ali e acolá... Subia na cama, deitava no chão, e a loucura, precisava dormir. Que nada, desde quando louco dorme?! Balançava um lado no outro, contava pontinhos no teto, cada um recebia um número e um nome: 24-Egberto. Sem falar nas conversas... Já que ninguém resolveu aparecer. Aliás, que tipo de pessoa ajusta o despertador para 23:35hs? Só podia ser louco! Foi cansando do tamanho, que demora essa vida. Desceu ao chão e pegou a carta. Ler precisava-não, já tava tudo gravado pronto no amanhã. Parou.
- Amanhã... Vai ser amanhã....
- O que tem amanhã?
- Eu to com pressa, não me pergunte. Por que me pergunta?
- Não caio nessa. Anda fala.
- Não consigo parar pra falar, amanhã é amanhã! Ai meu pai... Amanhã?!
- Você invade meu 'canto', com toda essa pressa, e espera sair daqui assim, como os outros?
- Sim... Amanhã...
- E quando é amanhã?
- Depois de hoje.
- E hoje?
- Depois de ontem.
- Ahhh... Por que essa pressa?
- Pra amanhã!
Escuro.
Ana procurava o relógio quando o tempo sumido assustou-a gritando - despertador! Desligou-o e viu: 23:35 hs.