terça-feira, outubro 21, 2008

Sabe o que falta?

Um pouco de cor, muito amor, muitos risos perante o problema. Falta angústia de querer dizer eu te amo e não saber como. O querer, essa vontade forte, que acelera o coração como a ansiedade por um copo d'água depois de dias no deserto. Falta o friozinho na barriga no momento do beijo. Falta ter medo, medo de perder tudo o que há de tão doce e bonito em ter medo. Ah, mas quanto não aprendemos com tudo? Cada queda uma cicatriz, cada cicatriz uma história, cada história uma história, um aprendizado. Falta ânsia por algo novo, por conquistas, novos horizontes. Falta juventude para acreditar e maturidade para compreender. A paz e juízo na Lei. Faltam horas nos dias, para ser possível realizar-se em um minuto. Ar puro para respirar, silêncio para ouvir, mais tempo para reclamar. Não. O que falta é coragem para admitir o quanto não nos falta. Basta um olhar e não vai demorar a descobrir o que há de bonito em tudo isso. Que para dar um sorriso não é preciso muito. Que para acreditar não é preciso provas e sim confiança, sobretudo, em si mesmo. Tudo o que conquistamos não foi e não é "nada", pelo contrário, vale muito. Nossos esforços estão lá, nosso tempo, carinho e dedicação. Quer sorrir, sorria, quer chorar, chore. Mas faça de cada momento, não mais um, mas sim aquele, que sempre que você recordar, lágrimas de satisfação lhe virão aos olhos. Aproveite para descobrir tudo o que pode, faça o que estiver ao seu alcance e tente o que não estiver sem medo de errar. A dor de errar é mil vezes menor do que a de pensar que você poderia ter acertado caso tentasse. Então se tem algo que queira fazer... Basta se permitir...
Arrisque-se, nunca saberemos se não tentarmos.


Arrisque-se, nunca saberemos se não tentarmos.

domingo, outubro 19, 2008

Qual era mesmo a pergunta?

Porque a vida é agora, o ontem e o amanhã não importa, não podemos voltar para refazer coisas já terminadas nem ao menos saber como evitar o que está por vir. Mas sabemos que a conseqüência existe, que temos o direito de escolha para apostar no que achamos oportuno e também o tempo para decidirmos mudá-la. Certo ou errado? Será correto falar assim? Nunca ou para sempre? Mentiras? Céu ou inferno? Hipocresia. Escolhas? Há muito tempo essa palavra só existe como puro simbolismo. Quem tem escolhas? Você pode escolher não trabalhar? Você pode escolher viajar? Você pode escolher o que quer fazer para o resto da vida sem se preocupar se terá dinheiro o suficiente para alimentar sua família? Você pode escolher ser ateu sem que alguém te julgue, ou acreditar em Deus? Você pode escolher se vestir como quiser ou ser homosexual sem levantar preconceito? Você pode escolher viver com paz? Claro que pode. Não é questão de escolha? É fácil dizer para um amigo ou parente de alguém que se droga ou que faça qualquer coisa considerado de "má conduta": "Ele quis isso, ele escolheu esse caminho", mas eu pergunto "Quais oportunidades ele teve? Alguém lhe deu chance? Ele teve outro caminho a escolher? Como era a vida dessa pessoa? Que motivos ele teve para fazer isso?"
Faz um certo tempo, dois velhos moradores de rua, quase se mataram em frente o meu trabalho por que não queriam dividir o cigarro. Um homem bateu em uma grávida porque ela não sabia quem era o pai. Alguém morreu em uma lanchonete e as pessoa no ônibus riam "menos um". Isso não acontece só com moradores de rua ou pessoas pobres, acontece o tempo todo, em todo lugar e com qualquer um e nada disso é novidade para ninguém.
Escolha virou sinônimo de imposição, inimiga da conseqüência e de mãos dadas com o medo. Coisas são impostas a nós o tempo todo, querendo ou não, somos obrigados a fazer parte disso que chamam de sociedade. Muitas vezes nos rebelamos em uma coisa ou outra, mas nada além do que, por exemplo, um mero texto dissertativo de uma menina de 20 anos, com raiva e chateada com o caos acontecendo ao seu redor, um texto que não sairá das páginas de um blog, não com besteiras, mas com as SUAS besteiras pessoais que compartilha com quem queira ler. Mas o que mais? O que podemos fazer? Porque isso não basta!
Dizer que a vida é bela e vamos vivê-la não basta! Existem pessoas morrendo, pessoas que poderiam ser minha família, meus amigos, eu mesma, você.
Acredito que as coisas possam melhorar, e isso não é romantismo, é realidade.
É questão de oportunidade, não de escolha.

terça-feira, outubro 14, 2008

Caminhando

Tudo o que eu quero
É nada o que espero
Sei quanto peço
Não sei quanto impeço

Tudo o que consigo
É briga comigo
Pois tudo o que quero
É nada o que espero

Tudo confuso
Não sei se eu mudo
Se vou ou se fico
Não sei o que escuto

Tudo aprontado
Caminho em frente
E o que espero
Um caminho descalço

Nu de hipocrisia
De mentiras e falhas
Nu de desgraças
De morte e lágrimas

Esse mundo não é meu
Nem tão pouco o paraíso
Talvez fosse inferno
A falta de um abismo

Mais provável um Hades
Com corpos flutuantes
E moedas em seus olhos
Mais provável o improvável

Mas caminho nesse instante
O improvável é existente
Nas idéias de quem nomeia
As possibilidades são infinitas...
No caminho que caminho

segunda-feira, outubro 06, 2008

O Rei da brincadeira (ê José) O Rei da confusão (ê João)



José tem quase setenta anos, mora numa terra onde deixou-se perder e não se encontrar. João não tem moradia, não é de ninguém, nem sabe quem é.
José quer voltar para casa, neste momento está sentando em um banco, na estação de trem, cujo único som que ressoa, é sua respiração ofegante. Segura em suas mãos frágeis, com toda a força para não escapar-lhe, a carta de sua filha. João não sabe ler.
A carta que José tem nas mãos, foi postada há cinco anos, sua filha está viva, ainda que há cinco anos, ela ainda pode estar viva. A mulher de José o aguarda em outra estação. João não tem família.
José conseguiu o visto para fazer sua viagem, sua terra esteve em guerra. Após ser separado de sua família há dez anos, não tivera mais notícias. Agora, velho e cansado, tem apenas uma alternativa. João não tem escolhas.
A filha de José está do outro lado do seu destino, ele agora sabe que tem um neto. João não tinha nome.
José tem quase setenta anos, mora numa terra onde deixou-se perder e não mais poderia se encontrar. José conseguiu apenas um visto, pode ir para um destino. Está velho, cansado. Sua mulher o espera em uma estação, sua filha está viva, em outra estação. João não pode esperar.

José chorou. João sorriu.
José partiu. João brigou.
Escolheu João. João morreu.
José não encontrou. João não tinha família.
José chorou. João não mais existia...