domingo, outubro 19, 2008

Qual era mesmo a pergunta?

Porque a vida é agora, o ontem e o amanhã não importa, não podemos voltar para refazer coisas já terminadas nem ao menos saber como evitar o que está por vir. Mas sabemos que a conseqüência existe, que temos o direito de escolha para apostar no que achamos oportuno e também o tempo para decidirmos mudá-la. Certo ou errado? Será correto falar assim? Nunca ou para sempre? Mentiras? Céu ou inferno? Hipocresia. Escolhas? Há muito tempo essa palavra só existe como puro simbolismo. Quem tem escolhas? Você pode escolher não trabalhar? Você pode escolher viajar? Você pode escolher o que quer fazer para o resto da vida sem se preocupar se terá dinheiro o suficiente para alimentar sua família? Você pode escolher ser ateu sem que alguém te julgue, ou acreditar em Deus? Você pode escolher se vestir como quiser ou ser homosexual sem levantar preconceito? Você pode escolher viver com paz? Claro que pode. Não é questão de escolha? É fácil dizer para um amigo ou parente de alguém que se droga ou que faça qualquer coisa considerado de "má conduta": "Ele quis isso, ele escolheu esse caminho", mas eu pergunto "Quais oportunidades ele teve? Alguém lhe deu chance? Ele teve outro caminho a escolher? Como era a vida dessa pessoa? Que motivos ele teve para fazer isso?"
Faz um certo tempo, dois velhos moradores de rua, quase se mataram em frente o meu trabalho por que não queriam dividir o cigarro. Um homem bateu em uma grávida porque ela não sabia quem era o pai. Alguém morreu em uma lanchonete e as pessoa no ônibus riam "menos um". Isso não acontece só com moradores de rua ou pessoas pobres, acontece o tempo todo, em todo lugar e com qualquer um e nada disso é novidade para ninguém.
Escolha virou sinônimo de imposição, inimiga da conseqüência e de mãos dadas com o medo. Coisas são impostas a nós o tempo todo, querendo ou não, somos obrigados a fazer parte disso que chamam de sociedade. Muitas vezes nos rebelamos em uma coisa ou outra, mas nada além do que, por exemplo, um mero texto dissertativo de uma menina de 20 anos, com raiva e chateada com o caos acontecendo ao seu redor, um texto que não sairá das páginas de um blog, não com besteiras, mas com as SUAS besteiras pessoais que compartilha com quem queira ler. Mas o que mais? O que podemos fazer? Porque isso não basta!
Dizer que a vida é bela e vamos vivê-la não basta! Existem pessoas morrendo, pessoas que poderiam ser minha família, meus amigos, eu mesma, você.
Acredito que as coisas possam melhorar, e isso não é romantismo, é realidade.
É questão de oportunidade, não de escolha.

Um comentário:

Amanda Pereira disse...

"Certa vez, houve uma inundação numa imensa floresta. O choro das nuvens que deveriam promover a vida dessa vez anunciou a morte. Os grandes animais bateram em retirada fugindo do afogamento, deixando até os filhos para trás. Devastavam tudo o que estava à frente. Os animais menores seguiam seus rastros. De repente uma pequena andorinha, toda ensopada, apareceu na contramão procurando a quem salvar. As hienas viram a atitude da andorinha e ficaram admiradíssimas. Disseram: "Você é louca! O que poderá fazer com um corpo tão frágil?". Os abutres bradaram: "Utópica! Veja se enxerga a sua pequenez!".Por onde a frágil andorinha passava, era ridicularizada. Mas, atenta, procurava alguém que pudesse resgatar. Suas asas batiam fatigadas, quando viu um filhote de beija-flor debatendo-se na água, quase se entregando. Apesar de nunca ter aprendido a mergulhar, ela se atirou na água e com muito esforço pegou o diminuto pássaro pela asa esquerda. E bateu em retirada carregando o filhote no bico. Ao retornar, encontrou outras hienas, que não tardaram a declarar: "Maluca! Está querendo ser heroína?". Mas não parou; muito fadigada, só descansou após deixar o pequeno beija-flor em um local seguro. Horas depois encontrou as hienas embaixo de uma sombra. Fitando-as nos olhos, deu a sua resposta: "Só me sinto digna das minhas asas se eu as utilizar para fazer os outros voarem."

Trecho retirado do livro "Vendedor de Sonhos" - Augusto Cury