Era uma vez um peixinho verde que vivia nas margens dos rios, e que tinha o sonho de conhecer o oceano. Sempre fora lhe dito que o oceano era para os grandes e corajosos, e que sendo assim, ele morreria antes mesmo de chegar perto. O tempo passou e o peixinho acostumou-se às lentas ondas que se formavam no leito, ao pôr do sol contemplado por segundos e ao silêncio dos seus companheiros, que quase nunca tinham histórias para contar. Sempre tinha um ou outro que se aventurava para o oceano, às vezes por força de vontade outras por força da maré, mas eles nunca voltavam para contar como fora sua jornada.
Um certo dia, que o pôr do sol durou menos do que o de costume, o peixinho percebeu que havia algo muito diferente. Ele nadava mais depressa, e até fazia piruetas, dava saltos e podia enxergar por segundos o que acontecia lá fora, e mesmo que lhe faltasse o ar, era o que ele mais gostava de fazer. Aconteceu que, em uma dessas vezes, ele deu um grande salto e quando retornava à água pôde ver o seu reflexo... Suas barbatanas cresceram e sua calda se esticou, ele estava maior, mais forte e mais colorido... Suas barbatanas antes verdes, se transformaram em uma mistura de tons que ele nunca havia visto. Sentiu uma súbita vontade de nadar o mais depressa que poderia, nadou, nadou, nadou, sem olhar para onde estava indo, era mágico saber que podia fazer tudo aquilo, mas então ele parou. Olhou para uma vasta imensidão escura e vazia, ouvia ruídos como um canto assombrado. Nadou para perto das algas e sentiu vontade de se esconder. O medo tomou conta de si, e sentiu uma vontade súbita de voltar ao seu lar, seguro e pequeno. Ele não se lembrava do caminho de volta. Passou ali, escondido, algumas horas. Então percebeu que lá fora amanhecia quando os raios do sol tocavam a água. De repente tudo se acendeu, e outros peixes começaram a sair de seus esconderijos nadando em direção à superfície. Era tudo, tão, tão colorido e imenso. Eram cores, coisas, e peixes que ele nunca soube que poderiam existir. Maravilhado com tudo aquilo, perguntou para um outro peixinho que passava onde ele estava, esse deu risada e respondeu "olá peixo litorâneo, você está no oceano". Uma sensação estranha tomou conta de si, ele começou a se lembrar de tudo o que ouvira falar do perigo oceano, então ele o julgou perigo e tentador por toda sua beleza, mas mal pôde contemplar ao seu redor que logo os peixes aceleraram a nadadeira, e se puseram em silêncio nas frestas, nas algas, em qualquer canto. O pobre peixinho não entendia o que se passava até que avistou ao longe uma silhueta de um peixei enorme, se aproximando com uma velocidade que ele nunca havia visto. Era um tubarão, o mais temido inimigo dos peixes. Imóvel pelo medo o peixinho só pôde se encostar em uma pedra que estava atrás de si, o tubarão parou à sua frente e o encarou por alguns segundos, de repente um raio de luz que atravessava as águas do imenso oceano, bateu na rocha onde se encostava o peixinho, e fez reluzir uma luz verde resplandecente por toda sua volta, a luz era tanta que cegou o tubarão que pôs-se a fugir. Os peixes saíram de seus esconderijos para contemplar as escamas do peixinho verde, que se tornavam também douradas e metálicas, a ponto de clarear toda a sua volta. O peixinho então ficou conhecido por Solesmero, um peixe cor de esmeralda que virava sol quando a luz chegava à ele.