Sentada no banco da praça observava tudo o que por ali passava... Cachorros levando seus donos pra passear, um menino ensinando o pai a andar de bicicleta, a mulher de gravata atravessando a rua depois de um dia árduo de trabalho, dois gatos unidos pelo calor do sexo embaixo da árvore, o jardineiro arrancando as rosas e cavando buracos profundos no solo... E do nada, um passarinho morto, que caíra do ninho. De todos observados, foi o que encontrei mais sentido, se assim posso dizer. Acabou. Talvez para ele, talvez para mim. Então percebi... E eu? O que estava fazendo?
Diante de tanta futilidade, senti vontade de desaparecer, entrar num daqueles buracos que o jardineiro cavou. Não queria ficar mais ali, na contemplação estática dos outros, na comparação insignificante de mim mesma. Era apenas a menina do banco da praça. Sem ação. Sem certezas. Sem alguém.
Estava tão atordoada e perdida em meus pensamentos que só me dei conta que alguém dirigia-me a palavra quando fui lançada no vão da lembrança. Era o menino da bicicleta, devia estar nos seus quase 10 anos. Quase chorei quando ele me perguntou se eu tinha visto seu pai. Lembrou-me o filho que eu não tive. Respondi com toda a sinceridade da minha pobre alma, não sabia onde ele estava. O menino então, fixou seus grandes olhos negros em mim, como quem não acredita. Uma criança olhando-me daquela maneira doce e ao mesmo tempo incrédula... Não me contive, as lágrimas desceram retas pelo meu rosto, o que eu era? Agora uma mentirosa sentada no banco da praça. O menino me abraçou e eu caí quando ele me acariciando chamou-me de mãe.