quarta-feira, abril 29, 2009

Das confissões inconfessáveis

É verdade que todos temos segredos, é verdade que todos omitimos verdades.
Como se julga a mentira? Deve-se julgar? Quando e como, então?
As desculpas são muitas, como por exemplo, não mentir para não magoar, deixar esquecer, deixar passar... Ou simplesmente, deixar de comunicar. Oras, não é mentir, é apenas omitir!
Por vezes se é descoberto algo, o omissor como ingênuo e possuidor das melhores intenções diz claramente: "Não disse antes porque você nunca perguntou", ou... "Pretendia contar, mas sabe como é, o tempo foi passando, acabei esquecendo".
O que julgar por isso tudo? Talvez omitir seja o mesmo que mentir, ou tenha a mesma condição mas em graus de afetação diferente. De todo modo, é natural que as pessoas mintam, omitam, enfim... Quando sentem seu patrimônio ou algo querido ameaçado, às vezes por falhas que elas mesmas cometem, e principalmente por isso, acabam por omitir.
A mentira vem após a tentativa falha da omissão, pois se não revelada após a pergunta do ser (considerado pelos mentirosos) "opressor", sua verdadeira resposta será manipulada de forma às modificações e aperfeiçoamentos em virtude da situação, parecendo uma outra versão, mais saudável para a verdade inconveniente. Algumas pessoas se dão bem no ramo das mentiras, às vezes são tão bons que passam a acreditar elas mesmas no caso inventado que acabaram de criar, outras já não levam muito jeito e se entregam antes mesmo de começar a tentar. Mas há também os que variam, são bons com alguns tipos específicos e péssimos em outros. Eu creio que depende do ouvinte, existem pessoas que captam, tem o faro pra detectar mentiras, não é uma regra e nem sempre estão certas. Dizem que são essas pessoas as peritas em detectar mentiras, que são melhores ainda em inventar uma ! Não sei, nada comprovado científica ou astrológicamente.
Enfim, devaneios e mais devaneios sobre confissões inconfessáveis.

Personalidades

Qual o nome dele? Quantos anos tem? Qual a sua história? Será que tem filhos, talvez netos...
São perguntas que me faço sobre o sujeito sentado na calçada. Hoje pela manhã ouvi alguém o cumprimentar por Zé, pois bem, é este agora seu nome, Zé, o Zé do Asfalto.
Esse sujeito intrigante é morador das ruas, está todos os dias na rua onde trabalho, fica horas sentado na calçada, observando os carros, mudo, não fala com ninguém, mas todos parecem falar com ele, e ele sorri em retribuição. Ele carrega com ele um radinho com fone no ouvido, fica concentrado observando a movimentação e ouvindo... Hum.. Também gostaria de saber o que ele ouve, mas pela paz em seu rosto e o brilho nos olhinhos talvez ouça Beethoven ou Chopin...
Ontem quando ia embora vi Maria decifrar palavras cruzadas, os quadrados estavam todos em branco e Maria fazia cara de dúvida e dificuldade segurando a caneta. Não sei se é este teu nome, mas é este nome que se parece com ela. Nunca falei com Maria, apenas retribuo o "Bom dia" que ela diz quando me vê. Maria tem mania de papel, adora os livros, os discos de vinil... Ela carrega um saco com alguns deles, entre eles percebi o Rei Roberto Carlos, as duplas Chitãosinho e Xororó e Zezé de Camargo e Luciano, e ainda um bem antigo da Mara Maravilha, mas havia outros. Às vezes Maria fica tempos e tempos olhando pra eles, imagino que deve saber decor as rugas dos artistas que aparecem nos discos, e deve sonhar em poder ouví-los um dia.
Ela tem um livro de anatomia... Fica lendo as letrinhas miúdas que vão dos pés a cabeça, se interessa principalmente pela parte da cabeça, ou talvez leve mais tempo lá porque é um membro menor com mais nomes e funções do que os outros...

Maria e Zé do Asfalto habitam a mesma rua, não conversam com ninguém e sorriem para todos. Eles também não conversam entre si...

quinta-feira, abril 23, 2009

Conto dos Astros


Quando eu era pequena me disseram que cada pessoa tinha sua estrela, que lá estava o brilho do nosso olhar, e que era para o céu que deveria olhar quando estivesse triste.
Eu logo encontrei a minha, tímida, um pouco afastada das outras, com o brilho meio apagado... Ela era diferente.
Todos os dias ao chegar do colégio eu subia as escadas e ia me sentar no murinho da varanda pra ver minha estrela. Passei a conversar com ela, contar meus medos, minhas travessuras, meus gostos. Quando estava nublado eu não conseguia vê-la, tampouco quando tinham tantas e tantas... Mas ainda assim, eu conversava com ela.
Mais tarde me disseram que se tivéssemos pedidos muito complicados era bom pedir pra Lua, ela era grande e ficava longe, ouvia os pedidos quando lá estava e depois sumia pra levar os tantos recados pro Deus dos astros. Mas a ela, só poderiam ser feito três, com tanta gente na Terra, não era possível carregar tantos pedidos. Eu gastei minha cota no primeiro dia, fiz os três pedidos numa tacada só. Se foram realizados? Todos. Eu pensava que ela tinha esquecido meus pedidos, e repetia todos os dias quando ia falar com a minha estrela. Repeti durante anos, até compreender que dependia de mim torná-los possíveis.
Também me disseram pra fazer um pedido quando visse um cometa, que quando chove é Deus torcendo as nuvens, quando venta fecho os olhos e toco as árvores... E quem nunca viu um coelho na Lua? Ele está lá, e eu estou apaixonada!
A primeira vez que vi o mar, vi também quantos olhares brilhavam sobre as águas... Eram tantas estrelas, tanta imensidão que a minha vontade foi mergulhar. Era como se todo o céu estivesse ali... perto de mim, ali, onde eu pudesse alcançar.
Essa noite verei minha estrela, tenho mil e uma coisas para contar...

sexta-feira, abril 17, 2009

É assim... É amor...

Eu te amo o quanto não cabe apenas em dizer
Não cabe nas palavras
Nos verbos
Nos gestos
Não cabe na letra
Não cabe nos versos
Cabe apenas em nós.

E você sabe, que bom que sabe
Que eu te amo
E que isso não tem tamanho...

quinta-feira, abril 16, 2009

Testamento

O que me ocorre é que o mundo pode acabar.


As pessoas tranqüilamente seguem suas vidas, com suas rotinas, seus estudos, suas tarefas, seus romances. Seguem o vício que a sociedade empreguina, ouvem buzinas no trânsito, vêem poluição, mortes, acidentes, guerra, fome, injustiça... e suas vidas seguem tranqüilas.
Do escritório para os estudos, dos estudos para casa, da casa para o escritório. Se isso mudar, só muda a ordem. Quando não, tira-se os estudos e bota-se um lazer com a família (Televisão).
Horas na frente de um computador, um horário a ser cumprido no trabalho, reclamações, solicitações, discussões e tudo é tão... normal. A normalidade me entristece, mas é fundamental para minha loucura.
Figuras estranhas, aquelas que andam falando sozinhas pelas ruas, mal vestidas, contando causos aos seus amigos invisíveis, ou apenas observando o movimento alheio, como se tudo fizesse parte de outro planeta, um planeta onde elas são isoladas e não vistas, mas estão ali, fazem coisas como se os outros não as vissem... Essas pessoas, para mim, tornam-se cada vez mais alvo de minhas especulações. São para elas que olho quando me ponho a caminhar, para a mulher que lê atentamente as letrinhas miúdas num livro de anatomia, para o homem sentado em um monte de lixo lendo o jornal da manhã, para o violonista colocando as cordas no seu violão recém pronto, feito por ele mesmo com restos de madeira, para o senhor de idade deitado na calçado esperando dar 18 horas para buscar a sua marmita.
É tanto que o homem tem para acrescentar ao homem. Não fazê-lo seria egoísmo, e não quero amargurar com uma idéia não realizada. As idéias tomam conta dos sonhos e elaboram os projetos de vida, o tempo passa, as dificuldades aumentam e as idéias secam por não serem regadas. As pessoas desacreditam delas mesmas e arranjam tantas desculpas para justificar qualquer coisa que as ponham em risco. Viver já é um risco, não permitir-se às conquistas é aceitar a derrota, é dizer não aos sonhos, aos desejos.
O que me ocorre é que o mundo pode acabar, e o que terei feito até lá?
Não tudo o que queria, mas nunca tudo o que pude. Fui além, quebrei barreiras, instituí valores, amei a vida, tive amigos, dois cachorros e vários gatos, eduquei um rato, joguei baralho, fiz arroz, dancei, atuei, fiz amor, amei, amo... Nós sempre podemos mais do que imaginamos que podemos. Poder está além do que se pensa. Muito deixamos de fazer com o medo de não conseguir, mas se não tentarmos...
O medo mantém os pés no chão, mas às vezes, é preciso voar.

"Lugares Proibidos" - Nossos lugares, meu e seu.

Eu gosto do claro quando é claro que você me ama
Eu gosto do escuro no escuro com você na cama
Eu gosto do não se você diz não viver sem mim
Eu gosto de tudo, tudo o que traz você aqui
Eu gosto do nada, nada que te leve para longe
Eu amo a demora sempre que o nosso beijo é longo
Adoro a pressa quando sinto
Sua pressa em vir me amar
Venero a saudade quando ela está pra terminar
Baby, com você já, já
Mande um buquê de rosas, rosa ou salmão
Versos e beijos e o seu nome no cartão
Me leve café na cama amanhã
Eu finjo que eu não esperava
Gosto de fazer amor fora de hora
Lugares proibidos com você na estrada
Adoro surpresas sem datas
Chega mais cedo amor
Eu finjo que eu não esperava
Eu gosto da falta quando falta mais juízo em nós
E de telefone, se do outro lado é a sua voz
Adoro a pressa quando sinto
Sua pressa em vir me amar
Venero a saudade quando ela está pra terminar
Baby com você chegando já

Helena Elis

terça-feira, abril 07, 2009

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A diferença do ontem pro hoje é que ontem eu me importava com hoje, mas hoje eu me importo com o que vem depois.

segunda-feira, abril 06, 2009

"Dor de Cotovelo"


O ciúme dói nos cotovelos
Na raiz dos cabelos
Gela a sóla dos pés
Faz os músculos ficarem moles
E o estômago vão e sem fome
Dói da flor da pele ao pó do osso
Rói do coccix até o pescoço
Acende uma luz branca em seu umbigo
Você ama o inimigo
E se torna inimigo do amor
O ciúme dói do leito à margem
Dói pra fora da paísagem
Arde ao sol do fim do dia
Corre pelas veias da ramagem
Atravessa a voz e a melodia

Caetano Veloso