quarta-feira, abril 29, 2009

Personalidades

Qual o nome dele? Quantos anos tem? Qual a sua história? Será que tem filhos, talvez netos...
São perguntas que me faço sobre o sujeito sentado na calçada. Hoje pela manhã ouvi alguém o cumprimentar por Zé, pois bem, é este agora seu nome, Zé, o Zé do Asfalto.
Esse sujeito intrigante é morador das ruas, está todos os dias na rua onde trabalho, fica horas sentado na calçada, observando os carros, mudo, não fala com ninguém, mas todos parecem falar com ele, e ele sorri em retribuição. Ele carrega com ele um radinho com fone no ouvido, fica concentrado observando a movimentação e ouvindo... Hum.. Também gostaria de saber o que ele ouve, mas pela paz em seu rosto e o brilho nos olhinhos talvez ouça Beethoven ou Chopin...
Ontem quando ia embora vi Maria decifrar palavras cruzadas, os quadrados estavam todos em branco e Maria fazia cara de dúvida e dificuldade segurando a caneta. Não sei se é este teu nome, mas é este nome que se parece com ela. Nunca falei com Maria, apenas retribuo o "Bom dia" que ela diz quando me vê. Maria tem mania de papel, adora os livros, os discos de vinil... Ela carrega um saco com alguns deles, entre eles percebi o Rei Roberto Carlos, as duplas Chitãosinho e Xororó e Zezé de Camargo e Luciano, e ainda um bem antigo da Mara Maravilha, mas havia outros. Às vezes Maria fica tempos e tempos olhando pra eles, imagino que deve saber decor as rugas dos artistas que aparecem nos discos, e deve sonhar em poder ouví-los um dia.
Ela tem um livro de anatomia... Fica lendo as letrinhas miúdas que vão dos pés a cabeça, se interessa principalmente pela parte da cabeça, ou talvez leve mais tempo lá porque é um membro menor com mais nomes e funções do que os outros...

Maria e Zé do Asfalto habitam a mesma rua, não conversam com ninguém e sorriem para todos. Eles também não conversam entre si...

2 comentários:

Dlugosz disse...

Durante os vários anos de pesquisa , os mendigos foram analisados por causa de sua alienação da sociedade.
Nossa pesquisa intensificou-se em ouvi-los, para entender por que falavam sozinhos.
Verificamos que, paralelamente aos loucos, eles discussavam assuntos interessantes, como guerras, política, sociologia e outras ciências, como se estivessem presentes nestas situações, ou vendo a imagem destas coisas.

Paulo Vilmar disse...

Amanda!
Zé, Maria e nós, conversamos com nós mesmos, nunca entre nós...
Beijos