"Quando pegamos apenas migalhas de felicidade, apenas restos, e logo os perdemos, como se dá comigo, pouco a pouco vamos nos tornando duros e maus..." diz Macha, personagem de "As Três Irmãs" (Anton Tchekhov - 1901).
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Eu avistei um vaso, ele quebrou-se
Eu reuni seus cacos
Juntei-os todos, pus no bolso, não
Joguei-os fora, deixei na rua
Eu fui embora
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"Enquanto esperamos... É preciso viver, é preciso trabalhar. Somente trabalhar." diz Irina, irmã de Macha.
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Foi o que eu quis, ir embora
Machuquei os dedos
Cortei-me em segredo
Mas todos sabem
Que era só o medo
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"Minhas queridas irmãs, nossa vida ainda não terminou. Viveremos" diz Olga, a outra irmã.
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Meu medo calou-me a boca
Naquele momento
Respirei o ar que sumira
E cuspi as palavras no vaso
Nos restos... Do vaso
Minhas mãos trêmulas
Ergueram os pedaços
Ergueram os pedaços
Juntei-os todos, pus no bolso, sim
Cortei-me
Soltei na mesa e os reconstruí
Destruir para construir
Pedaço por pedaço
Pedaço por...
Pedaço por pedaço
Pedaço por...
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"De que vale a pena se esforçar se tudo é em vão?" diz Irina.
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Não importa quantos sejam
Não importa quanto tempo leve
Nem quantas feridas cause
Me importa terminar...
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O vazio persiste dentro daqueles que não compreendem o espaço
É preciso conhecer-se para completar-se.
Despir-se às máscaras do improvável
Não é fácil, é doloroso.
É preciso cair, quebrar-se em pedaços
Reunir-se em si e compreender o outro
O que hoje são apenas cacos
Amanhã poderá ser um belo mosaico
De possibilidades infinitas... De possibilidades...
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E assim diz Sartre: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você."
3 comentários:
Puta que pariu, tudo que eu precisava talvez não ler. Hoje estou me sentindo mais humana. Adorei o texto.
Precisamos beber**
Gostei bastante. Denso, profundo, essencial!
Faz muito bem, Amanda: a poesia quando parte de epígrafes costuma render muito bem.
Amanda!
Do desespero da desesperança para a fluidez do transformar...Belo poema!
Beijos
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