terça-feira, fevereiro 27, 2007

"Es muss sein..." - Kundera

Ana desceu a escadaria e foi de encontro à porta. O mensageiro não se conteve com seu atrevimento a tomar-lhe a carta. Virou-se, foi embora. Nada mais importava... O que esperara em tantos dias agora estava em suas mãos. Rasgou o envelope entusiasmada, tremia deveras até o momento da leitura. Parecia descer por cada parte a ansiedade - ora parava na orelha e caia no dedão do pé, ora no olho ainda com a secreção matinal. Depois de correr com os olhos no papel, as pernas fracas escorregaram rumo ao chão como que resposta à fraqueza da alma. E agora? Como seria?
Ainda caída, desajeitada... Subiu ao alto da lembrança. Olhou pra trás quando criança, e a coragem apareceu. Afinal, era uma chance! Levantou do desespero, subiu pro quarto e ali parou. Ficou instantes a contemplar seu lugar - bagunçado e pequeno. Se alguém lhe perguntasse se ela era feliz, jogaria a culpa no 'quarto' e diria que ali sim. Sentou na penteadeira, levou um susto. Seus olhos a observavam como que nunca - antes. Diante daquele esboço, suas mãos se encontraram com mais duas do retrato. Faziam movimentos tristes e entusiasmados, como quem descobre algo muito importante - ela se viu. Através de um reflexo, quase que apagado, descobriu um ser mais ou menos inanimado. Não sabia o que fazer, ver, escolher. Encarou-se por momento, e perguntou-se: Quem é você?!

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