quinta-feira, setembro 30, 2010

O corpo fala

O trem demorou a passar, foi uma diferença de pelo menos 12 minutos em relação aos outros dias. Entrei. Sentei. Li. Desci do trem. Perdi meu ônibus. Foi uma diferença de pelo menos 12 minutos que se estendeu por 30 minutos. Sentei. Aguardei. Foi aí que vi um grupo de mudos se comunicando. Sempre achei interessante a linguagem de sinais. Dizem que todos devem aprender inglês, porque é o idioma universal, mas eu acho que deveríamos aprender libras porque é a linguagem do nosso corpo, é o que todos temos em comum. Afinal, falar inglês não me proporciona a experiência de me comunicar com um mudo ou surdo. 

Acho que os trens atrasam porque precisamos que os minutos se estendam. Eu teria perdido aquela deslumbrante apresentação se estivesse no meu horário. Era como um Ballet, com o fundo musical de buzinas e um cenário poluído. Uma moça gesticulava intensamente as mãos, passando sobre a cabeça, dando voltas, subindo e descendo em ritmos acelerados e calmos... Os rapazes a acompanhavam e esperavam seu momento para expressar. O interessante nessa linguagem é que aprendemos a ser pacientes, cada um tem a sua vez de se pronunciar. Se todos decidirem gesticular ao mesmo tempo, seria impossível compreender. Temos que ouvir, ou melhor, ver o outro falar. 

Só ganhei ao perder tempo. 

terça-feira, setembro 28, 2010

Hoje choveu

Tenho vontade de chorar.
Tenho vontade de gritar.
Tenho vontade de sair de mim.
Mas de poder voltar.

Quero primeiro querer sem imaginar se o que eu quero é possível
E não primeiro imaginar para depois não querer mais

Algo aqui dentro pulsa.

Hoje mesmo quis fazer tantas coisas
Quis ser dona do meu trabalho
Quis ser dona do meu destino
Quis que ficasse noite com muitas estrelas
Quis que todos pudessem querer coisas boas
Coisas que se realizassem
Quis mudar o mundo! 

Mas sempre descubro que é ilusão
Não me conformo! Não me conformo! 
Também não sei como começar

Quero ajudar
Quero tentar
Não tenho medo de cair e me machucar
Tenho medo de não conseguir ajudar

É lamentável 
Não querer mais lamentar
E não saber como é o primeiro passo
Afinal como é?

Como se faz para andar? 
Afinal como é?

Como se faz para ensinar?
Afinal como é?

Faz uma semana, que todos os dias pela manhã, eu vejo o homem sentado na mala, sem rumo, sem identidade, sem expressão alguma. Todos os dias, e sem mudanças. Mas hoje, ele era um homem diferente, um homem sentado na mala, sem rumo, sem expressão alguma que segurava um guarda-chuva. Um guarda-chuva quebrado e rasgado. 

segunda-feira, setembro 27, 2010

O que é maior

Procure por medo e o encontrará.
Já a solidão não.
Aqui não há, senão esta já escrita e outra noutro verso.
Isso, se dessa maneira a procurar.
Pois há quem diga - que ela está mesmo quando não está.

Curioso, no mínimo curioso. É também Subjetivo.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Desfaleço

Na sala, vazia, me havia, me havia. 

Ora, então não estava vazia se lá me havia.
Que sentido bobo o de haver, pois é possível estar e não estar. Como se diz, quando estamos num lugar, porém noutro.
Ah, pra quê complicar?! O que dizia?! Ah, sim...

Na sala, não vazia, me havia, me havia.
E existia tanto de mim que eu não cabia.
Gritei, mas nem minha palavra eu ouvia. 
As paredes apertavam-me os lados, a fronte e os tímpanos. Zunia tudo, o mundo, dentro de mim. 
E eu me havia, me havia assim. Toda zunida e muda, com o corpo gordo, pesado em cima de mim.
Na sala pequena, miúda, eu me via.
O aperto no peito, me assaltava querendo explodir. 
Não tinha espaço pra tanto de mim, não podia fugir.

Oh! Ali, bem ali... Está a porta. Mas é tão pequena. 
E eu crescia, crescia.
E a porta. Era porta. Permanecia imprópria. Somente porta. 
Tudo estava assim a minha volta.
E eu crescia, crescia.
A porta, não.

Pois sim, sou eu, minhas divagações a cerca de outro alguém que é, senão eu mesma, ou você, ou outra pessoa desconhecida. Divagações?! Não deveria divagar sobre o que me é importante. Pois sou eu, a gorda, que sente o peso da existência mútua, do que é ser humano. 
Pois sim, sou eu, quem mais?! Senão eu, que vejo a porta, a alguns passos, mas não a abro. Pequena, pequena porta. Serei eu tão grande que não consigo sair de mim?!
Pois sim, sou eu, eu mesma, que não sei se Sou ou do que se trata quando afirmo que não é de mim, de dentro de mim, que cresce, ou que explodi uma vez por dia, uma vez mais, todo dia, a vontade de caber em algum lugar. 

Eu. Eu me havia, me havia.

Pronto. Te passo. Está pronto.

Não. Não tanto.
Nem. Nem pouco.
Acho. Um outro.
Pronto. Tem ponto.
Muda. A regra.
Letra. Do ponto.
Coisa. Me dá.
Outro. Te passo. 
Pronto. 

segunda-feira, setembro 20, 2010

(Des)ajuste

Milhares de pensamentos me vem à mente, mas não consigo esboçar nenhum no papel. Será que me falta vontade? Não, isso é o que mais há. Talvez seja esse o motivo de minha persistência em não dizer tudo aquilo que ainda desconheço. Pois penso, mas quando escrevo não penso mais. E assim tem sido esses tantos meses: brandos, brancos, banidos de qualquer entusiasmo lingüístico.
Ah! Se a escrita fosse minha profissão, eu já estaria sem emprego, pois sem o da palavra já estou praticamente.
Não me lembro disso ter me ocorrido anteriormente, lembro-me, pois, que estive ausente em inspiração, mas esta não tardou a voltar e eu não demorei a esboçar tudo o que ela me permitia. Porém, não me recordo de ter permanecido tantos meses com entusiasmo, imaginação e sem saber como descrevê-los no papel. Isso tudo me é frustrante.

-         Ora! Aqui estou novamente, escrevendo, mesmo que sobre o meu sentimento de escrever.
-         Isso não se pode considerar.
-         E por que não?
-         Onde estão os contos, as fábulas, as crônicas? Onde está a poesia?
-         Antes de tudo está em nós.


Talvez o difícil seja encontrá-la. Talvez ela desapareça em certos momentos, como quando estamos felizes ou apaixonados. E talvez isso se dê porque estamos tão transbordantes dela, que não a vemos, apenas a sentimos. Eu vejo tantas imagens. Quando tendo transformá-las em letras, elas se dissolvem e eu as perco. Como o vento que desmancha um desenho de nuvem no céu. 

Ontem eu descobri...

Que as células procarióticas possuem uma estrutura muito simples, diferentemente das células eucarióticas, que possuem envoltório nuclear e são compostas por diferentes tipos de organelas.

Que gosto de música clássica, óperas e música instrumental. O lírico me acalma, me faz vibrar e querer sair bailariando por onde estiver.

Que brócolis além de possuir mais nutrientes que couve-flor é mais interessante, ainda mais quando temperado com alho e refogado na manteiga, hummm...

Que Emile Zola, o principal expoente do naturalismo na Europa, acreditava que se o teatro não fosse naturalista não poderia então, existir.

Que pensar em solidão e não se sentir solitário é praticamente impossível.

Que no Reino dos animálias encontramos os grupos dos invertebrados e dos vertebrados. No que diz respeito aos vertebrados, encontramos as aves, os peixes, os répteis e os mamíferos no grupo predominante dos Cordadas, e no que diz respeito ao Filo dos invertebrados... Ainda estou descobrindo.

Que se eu levar marmita para meu trabalho todos os dias, vou economizar em torno de R$ 50 reais por semana.

Que é super interessante e divertido aprender inglês com o Groover e Cookie Monster da Vila Sésamo. To sing with Groover: Around Around Around Around... Over, Under and Through, Near and Far... And too... Cookie Monster said: Food. He’s a big eater. 

Que não precisamos ter um motivo para escrever, pode-se escrever sobre a própria motivação por exemplo.