quarta-feira, setembro 22, 2010

Desfaleço

Na sala, vazia, me havia, me havia. 

Ora, então não estava vazia se lá me havia.
Que sentido bobo o de haver, pois é possível estar e não estar. Como se diz, quando estamos num lugar, porém noutro.
Ah, pra quê complicar?! O que dizia?! Ah, sim...

Na sala, não vazia, me havia, me havia.
E existia tanto de mim que eu não cabia.
Gritei, mas nem minha palavra eu ouvia. 
As paredes apertavam-me os lados, a fronte e os tímpanos. Zunia tudo, o mundo, dentro de mim. 
E eu me havia, me havia assim. Toda zunida e muda, com o corpo gordo, pesado em cima de mim.
Na sala pequena, miúda, eu me via.
O aperto no peito, me assaltava querendo explodir. 
Não tinha espaço pra tanto de mim, não podia fugir.

Oh! Ali, bem ali... Está a porta. Mas é tão pequena. 
E eu crescia, crescia.
E a porta. Era porta. Permanecia imprópria. Somente porta. 
Tudo estava assim a minha volta.
E eu crescia, crescia.
A porta, não.

Pois sim, sou eu, minhas divagações a cerca de outro alguém que é, senão eu mesma, ou você, ou outra pessoa desconhecida. Divagações?! Não deveria divagar sobre o que me é importante. Pois sou eu, a gorda, que sente o peso da existência mútua, do que é ser humano. 
Pois sim, sou eu, quem mais?! Senão eu, que vejo a porta, a alguns passos, mas não a abro. Pequena, pequena porta. Serei eu tão grande que não consigo sair de mim?!
Pois sim, sou eu, eu mesma, que não sei se Sou ou do que se trata quando afirmo que não é de mim, de dentro de mim, que cresce, ou que explodi uma vez por dia, uma vez mais, todo dia, a vontade de caber em algum lugar. 

Eu. Eu me havia, me havia.

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